A chuva fina molha a paisagem lá fora.
O dia está cinzento e longo... Um longo dia!
Tem-se a vaga impressão de que o dia demora...
E a chuva fina continua, fina e fria,
Continua a cair pela tarde, lá fora.
Da saleta fechada em que estamos os dois,
Vê-se, pela vidraça, a paisagem cinzenta:
A chuva fina continua, fina e lenta...
E nós dois em silêncio, um silêncio que aumenta
Se um de nós vai falar e recua depois.
Dentro de nós existe uma tarde mais fria...
Ah! para que falar? Como é suave, brando,
O tormento de adivinhar — quem o faria?
—
As palavras que estão dentro de nós chorando...
Somos como os rosais que, sob a chuva fria,
Estão lá fora no jardim se desfolhando.
Chove dentro de nós...
Chove melancolia.
In: COUTO, Ribeiro. Poesias reunidas. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1960. p.
Biografia: Quarto ocupante da cadeira 26 da Academia Brasileira de Letras, eleito em 1934, Ribeiro Couto (Rui Ribeiro Couto) era diplomata, poeta, contista, romancista, magistrado e jornalista. Nasceu em Santos, SP, em 12 de março de 1898, e faleceu em Paris, França, em 30 de maio de 1963. Seu primeiro livro, O jardim das confidências, ainda é simbolista, um momento precursor do Modernismo, a que Ribeiro Couto se ligou a partir de 1922, sem sacrifício, contudo, de seu feitio peculiar. Escreveu versos em francês no livro Le jour est long (O dia é longo), pelo qual conquistou, em 1958, em Paris, o prêmio internacional de poesia, outorgado anualmente a poetas estrangeiros cuja obra honra a França. Suas obras em prosa, romances, contos, crônicas também refletem a mesma atmosfera, ao retratar episódios simples, a gente humilde dos subúrbios e a vida anônima das pequenas ruas e casas pobres.