Com a aproximação de datas celebrativas como
o Dia das Crianças e o Natal, o comércio se prepara e os pais também, embora
não haja expectativas de que as vendas sejam boas para este ano. Mas o que está
em discussão é a questão do presente, isto é, o que se quer ganhar.
Houve um tempo em que dar ou ganhar presentes
era considerado um ato especial. Praticamente, usava-se presentear apenas em
datas especiais como aniversário ou natal. As crianças esperavam ansiosas pelo
presente, que era de acordo com as possibilidades de compra de cada família.
No entanto, o que se vê hoje é que o presente
transformou-se em um objeto trivial, rotineiro, banal e sem valor emotivo.
Movidos pelo consumismo exacerbado, promovido pelo modelo capitalista e aliado
à forte influência da mídia, muitos pupilos não sabem ou não querem saber das
condições financeiras reais da família e exigem seus presentes em qualquer
época do ano, merecendo ou não. Assim, passam a exigir não apenas brinquedos,
mas produtos inapropriados para a idade, além de celulares e outros
tecnológicos caríssimos.
Do mesmo lado, há pais que, por diversas
razões, uma dessas é muito preocupante, que é presentear o filho na tentativa
de suprir a ausência ou a falta de carinho e atenção, cedem aos caprichos e aos
pedidos, dando presentes sem ao menos ter qualquer motivo. Tal fenômeno
banaliza o ato de presentear e pode, muitas vezes, desencadear outros
empecilhos na educação da criança, como a valorização do Ter e não do Ser; e a
criação de futuros consumistas compulsivos.
Sabe-se que são muito tentadores os apelos da
atual sociedade. Pensar que o filho pode ser excluído de um grupo social por
não ter um celular novo ou não ter aquilo que está na moda pode ser cruel para muitos
pais que, nos anos 70 e 80, por exemplo, passaram por situações econômicas bem
precárias. Mas não justifica criar reis e rainhas que tudo querem e tudo pensam
que podem. É preciso dosar. Presentear a criança ou o adolescente porque tirou
nota boa na escola não é de todo ruim, mas transformar isso numa rotina é
péssimo para eles, o que dificulta a possibilidade de se tornarem adultos responsáveis
e seguros.
Diante de tantos apelos da mídia, da correria
do dia a dia dos pais e do modelo capitalista atual, é preciso que haja mais
diálogo em casa, mais tempo com os filhos e mais limite para que eles saibam o
que podem ou não podem e, principalmente, se precisam ou não de um produto. É
claro, dar e receber presente é bom demais, entretanto se faz necessário
reconhecer se, de fato, há necessidade ou não de dar presentes. Assim, os pais
estão criando futuros cidadãos conscientes e responsáveis, prontos para receberem
os nãos da vida, para que saibam lidar com as rejeições e, sobretudo, valorizar
o presente.