Genocídio na lama
É impressionante como o homem não aprende com os erros do passado. Quando a barragem de Fundão, em Mariana, em 2015, se rompeu, deixou 19 mortos e a região ficou devastada, acreditou-se que aquela tragédia jamais se repetiria; ledo engano. Mais uma vez, Minas Gerais chora em meio à lama com uma tragédia sem precedentes, nem se trata de tragédia, mas, sim, de genocídio.
O alarme não soou. Mas nem precisava de alarme para comprovar o perigo iminente. Já estava explícito que esse assassinato em série aconteceria a qualquer instante. Foi um crime sim. Não houve tempo suficiente para que centenas de pessoas entre trabalhadores, moradores e turistas escapassem das ondas de lama avassaladoras. Além da perda humana, milhares de animais daquela região também foram sufocados pelo lamaçal, comparado à força e à densidade de lavas vulcânicas; e ainda têm-se os danos causados ao meio ambiente , que são irreversíveis.
De acordo com o Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, até esta quinta-feira (31), 110 pessoas morreram por conta da lama; 238 seguem desaparecidas e 108 estão desabrigadas. Agora não se procuram mais por sobreviventes, apenas por corpos. O sofrimento de Brumadinho é imensurável. Sonhos interrompidos, vidas dilaceradas.
Cabe reforçar que, no Brasil, existem muitas barragens e muitas delas estão em estado de risco de se romperem e nada é feito. A Vale, a segunda maior mineradora do mundo, é uma criminosa que, até agora, não indenizou nem as vítimas de Mariana e faz mais vítimas.
Sabe-se que as mineradoras são necessárias, porém o desenvolvimento econômico deve andar de mãos dadas com os conceitos de sustentabilidade e responsabilidade social e humana; ao contrário é ganância, irresponsabilidade e descompromisso com a vida e com a dignidade do ser humano.
Nenhuma nação cresce verdadeiramente assassinando seu povo. Enquanto a justiça e o brasileiro forem coniventes com um país em que se consideram normais as mortes da Boate Kiss, de Mariana, de chacinas e agora de Brumadinho, infelizmente, maus augúrios são perceptíveis e isso é abominável e assustador.