É certo que o
cuidado com a aparência e a preocupação com a higiene devem ser estimulados
desde cedo nas crianças, por serem um importante aprendizado de cuidado consigo
mesmas que refletirá em outras áreas da vida, à medida que elas forem
crescendo. Estimular nos pequenos o interesse para o que vestir e como se
pentear, por exemplo, os ajuda a desenvolver a autoestima e a vontade de
parecerem bem e bonitos, contribuindo para a autoconfiança em várias situações
sociais. O problema começa quando a vaidade torna-se excessiva, com a criança
manifestando um interesse exagerado por roupas e acessórios, principalmente
aqueles incompatíveis com a faixa etária, como decotes, transparências, salto
alto, maquiagem.
Os pais são a
primeira influência dos filhos, com conceitos e comportamentos, que serão
assimilados (os primeiros) e imitados (os segundos), moldando a forma de pensar
a respeito da autoimagem e as escolhas de como se apresentar. Ou seja, os
valores que a família cultiva são fundamentais para a formação dos filhos, na
forma como estes vão interagir com o mundo e no que elegerão como realmente
importante para uma vida plena e saudável. Brincar de gente grande, com as
roupas da mãe e seus batons, faz parte da descoberta do mundo, do
desenvolvimento da imaginação e de uma visão lúdica. O faz de conta incentiva a
criatividade e o crescimento psicológico saudável. Mas quando deixa de ser
brincadeira, e se transforma em motivo para agradar os adultos e chamar sua
atenção, torna-se nocivo.
Estimular ou ao
menos permitir comportamentos incompatíveis com as necessidades dos filhos, não
dando a devida atenção à demanda por moda e marcas (estimulada desde o berço,
tanto por roupas, como por acessórios e brinquedos) ou a preocupação com o peso
(sim, essa é a próxima fase do processo de adultização), pode trazer sérias
consequências no futuro. Os adultos capitulam por receio ou incapacidade de
enfrentar não apenas a criança e seus desejos adquiridos ou o meio ambiente (os
outros pais deixam, que mal há, isso é fase, passa, mas é tão engraçadinho), ou
por terem absorvido os modismos, ignorando uma visão crítica dos mesmos.
É fundamental
estimular nas crianças uma visão realista e equilibrada de si mesmas e do
mundo, para que se preparem para enfrentar essas e outras pressões. Os limites
da vaidade devem ser observados, afinal cada fase tem suas necessidades, e é
desaconselhável que a criança queime etapas, porque isso pode levar a
problemas. Na adolescência, ela pode se tornar refém de padrões de beleza
impostos, do tipo de cabelo ao tamanho dos seios ou dos bíceps, a busca de um
corpo que a pessoa não pode conseguir, por características físicas, a não ser
através de cirurgias plásticas e tratamentos dolorosos, ou mesmo que colocam a
vida em risco, como o uso de anabolizantes. Preocupar-se com a aparência é
positivo, porque o desinteresse no cuidar de si indica pouco amor-próprio, mas
tudo com equilíbrio e bom senso.
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