Uma grande preocupação, hoje, nas
políticas públicas internacionais, é como dar asilo e propiciar um acolhimento
integral aos milhares de refugiados, principalmente no que se refere às
condições mais básicas para a sobrevivência como moradia, emprego, educação, saúde
e alimentação. A cada semana, sobe o número de emigrados, que procuram uma forma
de fugir de guerras civis, perseguições religiosas, políticas e étnicas, mesmo
sabendo dos riscos iminentes. E o que fazer com inúmeros imigrantes, ilegais,
em meio à crise, à falta de humanidade e a tantos outros desafios da atual
conjuntura do país e do resto de boa parte do mundo?
Segundo os últimos dados da ONU
(Organização das Nações Unidas), em 2014, somaram-se 19,5 milhões no mundo
todo. Só em 2015, 224 mil chegaram à Europa. A Grécia e a Itália são os
principais países escolhidos para o desembarque. A união Europeia se encontra
numa situação antagônica, já que vários países dessa federação se recusam a dar
asilo aos sobreviventes. A Suécia, por exemplo, informou que é impossível dar
abrigo em sua embaixada; a Alemanha decretou que não consegue receber todos; e,
mesmo aqueles que, por força maior, os aceitam, enfrentam dificuldades em
abrigar todos. Os milhares de exilados se amontoam em abrigos improvisados:
verdadeiros acampamentos de desesperança, sem nenhuma perspectiva.
Para chegarem à Europa, milhares de
famílias, na maioria síria, submetem-se a uma jornada arriscada, em barcos
muito frágeis, superlotados, em condições subumanas, encarando o Mediterrâneo.
Boa parte não chega ao destino: morrem no mar crianças, jovens, idosos. Embarcações
inteiras já ficaram nesse cemitério de ondas e, infelizmente, a tendência é
essa atrocidade se repetir outras vezes, enquanto a guerra e as perseguições
continuarem. Não há nenhum sinal de que isso vai acabar tão cedo.
Essa dramática realidade nos remete à
obra de Castro Alves, Navio Negreiro,
do século XIX, que denunciou o tráfico humano. Terrível mancha da nossa
história, quando negros africanos eram trazidos para a América, como escravos.
Em pleno século XXI, o tráfico de pessoas ainda assola a humanidade, com novas
roupagens: com pobres coitados, refugiados, que precisam escolher morrer em seu
país de origem, ou morrer na travessia marítima, ou, com muita sorte,
sobreviver em outras terras, muitas vezes, hostis.
O Brasil não está fora da lista de
países a receber refugiados. E, mesmo enfrentando tantas crises, pode ser
considerado um exemplo ao dar asilo a essa população tão sofredora. Dados do
CONARE (Comitê Nacional de Refugiados) foram divulgados nesta semana,
justamente no dia 19 de agosto, data em que se celebra, no mundo todo, o Dia
Mundial Humanitário, revelando que, em todo o nosso território nacional, são
8.400 refugiados, o que não é considerado alto se comparado a outras nações. Entre
os deslocados se têm sírios, libaneses, angolanos e colombianos.
Diante do drama de milhares de
refugiados, é preciso que os governantes encontrem formas de acolher, de forma
humanitária, todos os que necessitam de asilo. Deve-se, urgente, rever as políticas
públicas em relação ao assunto, encurtar a burocracia existente, diminuir as
resistências na aceitação dos expatriados e ampliar as cotas de aceitação
destes. Para esses sofredores, não há caminho de volta ao lar, porque muitos
não o têm mais. Então, cada país deve abrir as suas portas para abrigar aqueles
que necessitam e mostrar a sua humanidade, ou melhor, o lado humanitário de
cada um. Será que este lado existe?