Outro dia, lendo um texto de Gabriel
Garcia Márquez, Esperança, senti uma necessidade
imensa de refletir sobre a vida e, principalmente, sobre o que nos resta de
tempo para viver. Então vi que se eu tivesse mais um bom pedaço de vida iria
fazer muitas coisas de forma bem diferente de como tenho feito nos últimos
anos.
Talvez eu trabalhasse um pouco menos,
assim teria mais tempo livre para curtir minha família, meus filhos, meus
amigos. Se tivesse dedicado mais tempo para isso, teria apreciado cada detalhe
na vida deles e teria visto, de pertinho, os filhos crescerem, se modificarem, tornando-se
adolescentes, adultos. Veria as alegrias e as armadilhas que a vida pregara a
cada um deles e que eu, infelizmente, nem percebi, nem vi o que estava
acontecendo enquanto eu... eu trabalhava, ajuntando dinheiro, estresse e um
álbum de recordações de páginas em branco, limpo, liso.
Se eu tivesse mais um breve tempo de
vida, me dedicaria a cuidar da minha saúde. Assim não a teria quase perdido de
vista. Quando percebi, estava cansada demais, doente demais e, praticamente sem
voz, de tanto gastá-la, enquanto eu deveria ter falado menos e ter ouvido mais
o meu próximo. Só senti falta da saúde quando me senti debilitada e
impossibilitada de trabalhar. O corpo reagiu contrariando o meu querer. Eu
queria trabalhar, mas o corpo, este amontoado de ossos, artérias e sangue, não
me obedeceu e deu um grito de ajuda, quase tardio. E é assim que acontece com
boa parte das pessoas que acham que têm de carregar o mundo. Muitos são vão dar
valor quando perdem, outros, porém, não terão essa oportunidade.
Se por acaso Deus me desse esse presente
maravilhoso de poder viver mais, certamente, seria mais agradecida, mais
generosa, pois a vida tem sido misericordiosa comigo em todos esses anos. Então
reclamaria menos. Quantas pessoas passam por situações tão difíceis na vida e
não reclamam de nada, ainda se sentem privilegiadas de poderem carregar a cruz
do seu dia a dia. Quantas vezes reclamamos pela falta de conforto, pela falta
de dinheiro, pela falta de bens materiais, pela falta de carinho, pela falta de
reconhecimento profissional e pelas tantas faltas, inumeráveis que julgamos
ter. Quantas vezes não nos damos conta de que há pessoas que não têm quase
nada, muito, muito menos que nós, e passam a vida dando graças. E o pior é que
temos muito, mas queremos mais, nunca nos sentimos satisfeitos e contemplados
pela graça de Deus.
Se eu tivesse mais um tempo de vida, eu
seria diferente, seria mais humana, ficaria mais perplexa diante de fatos que
não podemos aceitar, deixaria de ser conivente com tantas atitudes egoístas do
ser humano. Seria mais amorosa com meus filhos e com todos ao meu redor,
entenderia mais o problema do outro, não achando que os meus problemas são
maiores do que de todo o mundo. Isso é o que costumamos fazer quando nos
esquecemos de que não somos exclusivos, mas que devemos dar exclusividade ao
outro.
Assim, se eu tivesse mais um tempinho de
vida, diria aos meus filhos que os amo muito e que eles são preciosos para mim,
diria aos meus alunos que são importantes para meu crescimento e para minha
aprendizagem, diria ao meu marido que ele é carinhoso à medida que ele pode
ser, não na medida que eu desejaria que fosse.
Diria a todos que aproveitem a vida e
não esperem que as doenças do corpo e da alma se apoderem de si para se dar
valor à saúde, à vida e aos momentos mais simples do cotidiano; viveria mais
intensamente, levando uma vida mais simples, sentindo a presença do Criador a
cada vez que inspiro esse ar, tão certo, tão necessário. Se eu tivesse mais um
tempo de vida, abraçaria mais, sorriria mais, trabalharia apenas o suficiente
para ter uma vida digna, diria mais vezes “eu amo você”.
Por isso, agora, termino esta crônica
para pôr todos os verbos aqui usados neste texto no presente do modo indicativo
e começo a fazer isso agora, desde já, para dar um beijo gostoso nos meus filhos
que acabam de chegar.
Por:
Rosana Cristina Ferreira Silva