quinta-feira, 1 de agosto de 2019

A triste invisibilidade dos moradores de rua


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É amplamente conhecido o papel do Estado na garantia de moradia para todos. O direito de moradia é, basicamente, o direito de ter um lar, uma casa. Trata-se de um direito fundamental garantido na Constituição Federal de 1988. No entanto, há inúmeros desafios, principalmente quando se trata dos moradores de rua, pois há diversos motivos que os levam às ruas, à exclusão. O problema se agrava ainda mais agora, já que o Brasil passa por um inverno rigoroso, com madrugadas congelantes, causando a morte dessa parcela social que já sofre com tantas outras violências.
Primeiramente, vale lembrar que, no Brasil, há um extenso campo das exclusões sociais, porém os moradores de rua, ou seja, pessoas que estão em situação de rua, sofrem com a invisibilidade social muito mais intensa que outros grupos excluídos. É como se não existissem. O descaso das políticas públicas para com esses sujeitos é que mata, já que os governos são lenientes com os poderosos e um opressor com a classe pobre. Por isso os moradores de rua padecem à mingua, aos poucos. Agora, ainda mais, pois o país enfrenta um inverno intenso e muitos estão perdendo suas vidas devido à hipotermia. Em São Paulo, há mais casos de mortes. Com as madrugadas geladas, sem cobertores adequados e sem alimentação, muitos não suportam as geadas, morrem de frio, morrem sozinhos e totalmente invisíveis. Essa invisibilidade é causada justamente porque os políticos dão as costas para o povo e, sem perspectivas, muitos se encontram nessa situação de rua.
Tal fato faz lembrar o conto “A Pequena Vendedora de Fósforos”, de Hans Christian Andersen, cuja personagem morre congelada, na rua, sozinha, e só depois de sua morte é que as pessoas percebem que ações deveriam ter sido feitas. Isso não é diferente do que anda acontecendo no atual contexto social brasileiro, só depois de constatar diversas mortes de moradores de rua devido às madrugadas geladas é que a sociedade se mobiliza. Na capital paulista, após as mortes, a prefeitura passou a acolher os moradores, levando-os a centros de acolhimento, mas antes vidas foram perdidas.
Além de tudo, há uma contradição inaceitável, uma vez que o Brasil tem em sua lei, a afirmação de que a moradia é um direito humano fundamental. Então não se justifica a situação de tamanha vulnerabilidade dos seres humanos que vivem nas ruas. Essas pessoas são vítimas das mais variadas expressões de violência como se não bastasse a própria condição subumana em que passam seus dias, jogados nos grandes centros urbanos, morando debaixo de pontes, de escadarias das rodoviárias, de pontos de ônibus, em tubulões de esgoto. Cabe salientar que os indivíduos em situação de rua fazem parte de um dos grupos sociais de maior vulnerabilidade e as vias das cidades vêm se enchendo cada vez mais, não somente nas grandes metrópoles.  Nos últimos anos, além de viveram nas ruas, muitos moradores são assassinados, um extermínio programado. 
Portanto, ações rápidas e condizentes com a realidade e com o momento devem ser tomadas para que mais moradores de rua não morram de frio, nem de nenhuma outra violência. Para isso, enquanto não têm moradia, é preciso que haja uma parceria entre prefeituras, igrejas, escolas, entidades de classe e toda a sociedade para que se mobilizem com ações concretas como centros de acolhimento, roupas adequadas, alimentação que sustente, além do calor que só um abraço pode oferecer. Mas isso é para ontem, não pode esperar que mais sujeitos morram invisíveis nas madrugadas frias. É preciso aquecer os moradores não somente com cobertores, mas sim com calor humano.

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