Jorge Amado |
É lamentável o movimento xenofóbico que o país e o mundo presenciou nas últimas semanas em relação aos nordestinos. É inadmissível que, no Brasil, país rico e conhecido mundialmente por seu multiculturalismo, aconteça e se admita tanta hostilidade, preconceito, aversão e violência contra a população do Nordeste.
O cerne da questão é que se esqueceram de que não se pode julgar uma região superior à outra principalmente quando se trata de questões regionais, religiosas, culturais, linguísticas, políticas entre outras. Conforme afirmou Zygmunt Bauman, sociólogo e filósofo polonês, estamos vivendo em uma modernidade líquida, em que a sociedade é incapaz de se relacionar com profundidade, tornando-se inabilitada para se sensibilizar, analisar com criticidade e com senso de justiça. A maioria dos cidadãos pós-modernos não sabe apontar sua preferência sem ofender, sem denegrir, sem violentar, achando-se unicamente o dono da verdade. E isso é barbárie, selvageria.
Para onde foi a educação recebida em casa? A catequese, os bons costumes, o valor à vida humana, o respeito e a ética? Aliás, os algozes do povo nordestino são, coincidentemente, os mesmos que querem tudo isso e não tem para oferecer; querem respeito, mas não respeitam. É inaceitável que certos brasileiros se julguem mais inteligentes que os outros sem ao menos conhecer a realidade desse povo lutador, corajoso e trabalhador que enfrenta inúmeros desafios.
Cabe destacar que boa parte da população está desinformada e esquecida, pois o Nordeste é riquíssimo, embora seja castigado pela seca que se estende pelo sertão afora. É nessa região que se encontram as melhores e mais lindas praias, tem rica diversidade de biomas, é uma gigante na arte, cultura, festas populares, música e literatura. Sua história é vasta de personalidades que contribuíram e que ainda contribuem com o desenvolvimento da região e do país. Portanto quem somos nós para apontar o dedo para os nordestinos quanto às escolhas deles? São eles quem sabem das reais necessidades.
Urge, por conseguinte, encerrar a estupidez da xenofobia em relação a qualquer indivíduo porque todos são revestidos de dignidade humana e como afirmou um dos maiores sociólogos do país, que por sinal é nordestino, Gilberto Freyre: “o saber deve ser como um rio, cujas águas doces, grossas, copiosas, transbordem do indivíduo, e se espraiem, estancando a sede dos outros. Sem um fim social, o saber será a maior das futilidades.” O Brasil está com sede de união. Chega de seca!
Ariano Suassuna |
(Vide lista de algumas personalidades mais famosas do Nordeste).
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