Nunca a culpa é da vítima, isso é fato. É
impressionante o reflexo da mentalidade machista e arcaica, enraizada na
cultura e na história do país. Dizer que a mulher tem culpa de ser estuprada é
uma afirmação bárbara, triste e ingênua. Infelizmente o caso da moça estuprada
no Rio de Janeiro e espalhado nas redes sociais teve de acontecer para que esse
tema fosse tratado com seriedade e, sobretudo, visto como uma ação recorrente
no Brasil. Só agora a mídia está expondo esse debate e ficou claro que o
estupro coletivo vem acontecendo há tempos e, até então, praticamente, ficava
encoberto na sociedade contemporânea.
O estupro tem raízes nos primeiros anos de
colonização, quando os portugueses atacavam as índias nativas e ficavam
impunes. Esse ato se estendeu durante o período de escravidão, tendo como
vítimas as escravas, como se não bastassem o tratamento subumano que levavam. No
início do século XVII, houve a invasão holandesa em Pernambuco e há documentos
que comprovam que os holandeses ficaram impressionados com o machismo
exorbitante aqui no Brasil e como as mulheres eram maltratadas e humilhadas
naquela época.
Não mudou muita coisa de lá pra cá, já que essa
humilhação e violência sexual persistem até hoje e atormentam mulheres de todas
as classes sociais e de qualquer idade, inclusive crianças e idosos. No entanto
há registros de que mulheres de baixa renda são as que mais sofrem esse tipo de
violência.
Além disso, é impressionante constatar como o
crime de estupro ainda está escondido dentro dos lares ou como segredos das
vítimas. Muitas delas ainda convivem com estupradores e são forçadas a se
calarem por diversos motivos. Desse modo, por medo ou por vergonha, o silêncio
contribui com a perpetuação desse crime inadmissível.
Entretanto, com o avanço da participação
feminina em diversos contextos sociais, com mais liberdade de expressão e menos
medo de denunciar, as mulheres passaram a notificar o estupro, enfrentaram a
sociedade e o próprio criminoso, a fim de dar um basta nessa situação
degradante e violenta. Outras iniciativas, portanto, devem ser tomadas como a
expansão da delegacia de mulheres, mais linhas para denúncias como o 0800.
Ademais é notável que as redes sociais tiveram uma contribuição positiva por
meio de manifestações contrárias ao estupro e ao estupro coletivo, dando força
e apoio às vítimas e, de certa forma, exigindo cobrança no cumprimento de leis
para colocarem na cadeia o agressor. Basta de machismo, basta de sofrimento.