sexta-feira, 17 de junho de 2022

Só poesia Chuva




 A chuva fina molha a paisagem lá fora.
O dia está cinzento e longo... Um longo dia! 
Tem-se a vaga impressão de que o dia demora... 
E a chuva fina continua, fina e fria, 
Continua a cair pela tarde, lá fora. 


Da saleta fechada em que estamos os dois, 
Vê-se, pela vidraça, a paisagem cinzenta: 
A chuva fina continua, fina e lenta... 
E nós dois em silêncio, um silêncio que aumenta 
Se um de nós vai falar e recua depois.


 Dentro de nós existe uma tarde mais fria... 


 Ah! para que falar? Como é suave, brando, 
O tormento de adivinhar — quem o faria? 
— As palavras que estão dentro de nós chorando... 


 Somos como os rosais que, sob a chuva fria, 
Estão lá fora no jardim se desfolhando. 


 Chove dentro de nós... 


Chove melancolia. 


 In: COUTO, Ribeiro. Poesias reunidas. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1960. p. Biografia: Quarto ocupante da cadeira 26 da Academia Brasileira de Letras, eleito em 1934, Ribeiro Couto (Rui Ribeiro Couto) era diplomata, poeta, contista, romancista, magistrado e jornalista. Nasceu em Santos, SP, em 12 de março de 1898, e faleceu em Paris, França, em 30 de maio de 1963. Seu primeiro livro, O jardim das confidências, ainda é simbolista, um momento precursor do Modernismo, a que Ribeiro Couto se ligou a partir de 1922, sem sacrifício, contudo, de seu feitio peculiar. Escreveu versos em francês no livro Le jour est long (O dia é longo), pelo qual conquistou, em 1958, em Paris, o prêmio internacional de poesia, outorgado anualmente a poetas estrangeiros cuja obra honra a França. Suas obras em prosa, romances, contos, crônicas também refletem a mesma atmosfera, ao retratar episódios simples, a gente humilde dos subúrbios e a vida anônima das pequenas ruas e casas pobres.

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